segunda-feira, 22 de junho de 2009

UM SUAVE TOQUE DE MAGIA.
Marco Miranda 2002

Fazia um calor horrível naquele dia e o movimento de pessoas era intenso. Alunos querendo fazer inscrição, pais querendo informações, um entra e sai na porta que deixaria qualquer um louco. Durante toda a semana estivera assim. Todos querendo fazer suas inscrições nos cursos que o Núcleo oferecia.
O hall cheio, movimentado e a sala com todas aquelas pessoas, acentuava o calor do dia. A mesa, cheia de papel, mostrava a quantidade de trabalho que estava esperando para ser feito. O telefone não parava de tocar. Fichas, números, alunos, professores, tudo passava em um grande turbilhão. O telefone tocou mais uma vez. Teria tocado de forma diferente? Acho que sim. Atendi.
Em meio ao turbilhão de ações e palavras ditas na sala, a voz clara e firme da professora Maria Lúcia, diretora da escola, chegava pelo telefone com igual intensidade daquelas que eram ditas naquela sala.
- Temos um grande problema... – disse ela com sua forma peculiar de falar.
- Bem - pensei - problemas existem para serem solucionados.
- Temos uma aluna da escola que é aluna de vocês também - falava Maria Lúcia, deixando transparecer sua inquietude.
O que poderia ser? Meus pensamentos voavam. Briga de alunos? Não, eles não são de brigar.
- Algum problema administrativo?
- Também não! Tudo andava muito bem... De repente pensei: Santo Deus... alguém machucado?
Tudo era muito rápido e os pensamentos passam em instantes.
- Diga Maria Lúcia... O que aconteceu? Finalmente perguntei.
- Temos uma aluna aqui na escola chamada Fátima que é aluna de vocês também... Ela está doente e está aqui... Insiste em vir para a Escola, pois somente assim pode ir para a aula de vocês aí no Núcleo de Arte. Disse que não quer ir embora, pois quer fazer a aula... Somente vai para casa se você ou a professora dela aí do Núcleo disser que está tudo bem... que ela pode faltar.
A aluna veio ao telefone. Parecia nervosa. Estava com uma virose e mesmo febril insistiu com a mãe para vir para a aula. Tranqüilizei-a. Estava tudo bem. Poderia faltar sem problemas. Quando estivesse boa, que voltasse para as aulas. Após ouvir o que disse, me pareceu mais calma.
Desliguei o telefone e me dirigi a mesa, onde a pilha de papéis aguardava.
Meus pensamentos, porém, não estavam ali. Eu procurava compreender o que havia acontecido.
O que impulsionava aquela aluna a querer vir para a aula, mesmo febril? Seria a empatia da professora? Seria a música que ela aprendia? Seriam os amigos?
Num instante me veio a resposta. Meus pensamentos iam longe, num tempo quando eu mesmo havia percebido aquele suave toque. Eu me recordava de dias felizes, da vibração que havia sido a descoberta do encantamento que a Arte provoca, da felicidade – quase dionisíaca - que sentia quando ia para a Escola de Teatro. Era indescritível. Agora eu compreendia a aluna. Era isso! Ela havia sido tocada pela suave magia da Arte.
Tudo na sala agora parecia diferente. O calor já não era tão forte e o intenso movimento de pessoas não incomodava.
Mesmo que o destino mostrasse àquela menina caminhos de vida distantes dos caminhos da Arte, aquele encantamento seguiria com ela por toda a vida. Era dela, e jamais seria perdido.
Um leve sorriso se desenhou em meu rosto.

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