sábado, 10 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
Desenhos intrigantes
Carteira de censura
ABOIO
Exatamente nestas pedras diversas cenas foram feitas.
Still do curta "Aboio". Filmado no Largo da Carioca. Ao cento o início da Rua Senador Dantas. Na extrema esquerda podemos ver uma pequena parte da fachada do prédio do Liceu.
ABOIO
Havia, há muitos anos atrás, em 1972 para ser exato, um grupo de jovens atores, estudantes da Escola de Teatro Martins Pena, no Rio de Janeiro, que precisavam construir um trabalho para nota de final de período.
O trabalho deveria ser a montagem de uma peça de algum autor clássico ou, a partir de laboratórios, que consistiam em exercícios teatrais, fazer uma "criação coletiva", tipo de montagem muito comum nos anos de 1970.
Perfeitamente integrados com a filosofia "anos 1970", então vigente, inspirada, ainda, em Glauber Rocha, aqueles atores fizeram um trabalho denominado “Aboio”.
Tive o privilégio de ser um deles.
Na equipe atuavam também:
Mabel Esperança
Ze Marrarich
Tuim Rainha
E outros, cujos nomes, as névoas do tempo afastaram de minha mente. Cabe o registro que os nomes listados são “artísticos”.
A princípio despretensioso, a montagem resultou belíssima, chamando a atenção de vários professores e mesmo, extrapolando os muros da Escola, chamando a atenção de jornalistas e profissionais de diversas áreas.
Além de nos apresentarmos na Sala de ballet da Escola, fizemos também uma pequena temporada no Teatro Gil Vicente da UFRJ, que funcionava na, então, recém-aberta Av. Chile, em uma mostra de teatro chamada "Antes que o pano caia". Este teatro funcionou durante pouco tempo e logo, como tantos outros, foi abaixo.
A repercussão do trabalho foi de tal ordem que fomos indicados para participar do Festival Mondial du Théatre de Nancy (Festival de Teatro de Nancy) – França.
Não sei se ainda hoje a cidade de Nancy promove o Festival de Teatro. Naquela ocasião, meados dos anos de 1970, contudo, o Festival era muito famoso e constituía-se em objeto de desejo da maioria dos atores cariocas.
O alvoroço na Escola por conta da indicação foi imenso.
Mesmo com a peça objeto da indicação já montada, vários outros alunos quiseram participar, professores procuraram colaborar. Durante certo período de tempo a Escola girou e funcionou em função do “Aboio”.
Como desde muitos anos o apoio Cultural no país é pífio, para não dizer inexistente, não tivemos como viajar, pois não conseguimos verbas para tal finalidade. O sonho foi, então, abortado.
Decepcionados pela impossibilidade de consumar nossa Arte em terras d’além mar; cientes de que a Arte somente acontece com a exposição ao outro; certos que a interação artista-expectador é imprescindível para a Arte e que das várias vertentes da Arte o Teatro é uma das mais efêmeras, acontecendo apenas no instante em que é produzida e desaparecendo para sempre no instante seguinte, quedamos no profundo desânimo do não-ser e do não-fazer.
Assim ficamos até que, ainda seguindo a linha dos anos 70, tive a idéia de, minimamente, fazer o registro do trabalho com a tecnologia disponível e acessível para a época. Os filmes “Super 8”.
Naquela ocasião (aliás, desde sempre) eu gostava de filmes e cinema. Por conta disto eu havia comprado uma, então, novíssima câmera Super 8 Canonn “último tipo” e fazia “pequenos filmes”. Produzi, inclusive, um filme de animação. Um grande feito naquela ocasião.
Longe ainda do tempo em que qualquer telefone celular seria capaz de registrar vários minutos de ação, partimos para uma casa em uma praia deserta do Estado do Rio de Janeiro, chamada “Mar do Norte”, quase chegando a Macaé. O lugar, realmente era completamente deserto. A única casa que existia por quilômetros era da família de um dos integrantes do Grupo, chamado Antonio Augusto.
Saí do elenco para assumir a função de “câmera-man”. Quase um diretor. E pusemo-nos a encenar a peça, agora em locações.
O enredo do espetáculo-filme constituía-se de uma mistura de misticismo, fantasia e realidade.
Profundamente marcados por Glauber Rocha, grande ícone, e, talvez, pensando em “Terra em Transe”, ou, quem sabe, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, ou “Deus e o diabo na terra do Sol”, partimos para a ação.
Aboio – o título de nosso trabalho - é um canto típico do nordeste brasileiro, comum também no interior de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Consiste em um canto sem palavras entoado pelos vaqueiros quando conduzem o gado pelas pastagens ou para o curral. É um canto vagaroso, no ritmo do movimento dos animais, que termina incitando a boiada de forma não cantada.
Assim, nosso espetáculo também não tinha palavras. Apenas sons e cantos. Uma família nordestina, cuja característica principal é a união entre seus membros, após a morte de um de um deles e diante da miséria e da fome, tem como única opção de sobrevivência a migração para o Rio de Janeiro.
Na bela cidade, diante das demandas e tentações cosmopolitas, o núcleo familiar se desintegra e seus membros se dissolvem na grande metrópole. Esta era a trama de nossa história.
Claro que não tivemos, naquela ocasião, a percepção de que veículos diferentes necessitam de dinâmicas diferentes e que a transposição do teatro para o cinema exige uma releitura e uma adequação de um ao outro. Afinal éramos, apenas, estudantes de teatro. O registro, contudo, foi feito no início do longínquo ano de 1973.
Durante todo este tempo o filme esteve perdido, esquecido nos guardados que, ao longo da vida, normalmente, vamos amontoando. Há cerca de um mês atrás, remexendo os armários, encontrei o original do filme, ainda guardado em sua caixa-box e esta dentro de uma caixa maior onde havia várias coisas.
Revirando as partes altas dos armários encontrei, também, o projetor de filmes Super 8 e, surpresa: Ainda funcionando. A excitação e a emoção foram enormes quando, com cuidado, coloquei para projetar o filme.
Foi um momento tenso. Acredito que devido ao tempo, a película estava e está muito fraca e quebradiça. E se partia muito facilmente durante toda a projeção.
Com pesar, repetindo um gesto de quarenta anos atrás, guardei o original em sua caixa box. Desta vez, porém, o desfecho seria diferente. Ao invés de guardá-lo por mais quarenta anos, procurei adequá-lo a tecnologia atual, transcodificando-o e providenciando a telecinagem para que pudesse ser visto e revisto sem destruí-lo no processo.
Com sua linguagem e estética característica dos "anos 70" o filme, de 15 minutos de duração, nos dá uma boa panorâmica da arte naquela ocasião e, de quebra, podemos observar as transformações que os diversos espaços físicos que aparecem nas locações sofreram.
Agora, seguindo as tendências dos anos de 2009, refiz a montagem criando uma “edição do diretor”, mais dinâmica e sintonizada com os tempos atuais.
No blog estão as duas versões. Carpe Diem.
Arquivo pessoal do ator Marco Miranda